Por Rafael Amaral Shayani (*)
A humanidade caminha, indubitavelmente, em direção à unidade mundial, galvanizando cada vez mais o entendimento de que a Terra é um só país e os seres humanos seus cidadãos.
Muitas decisões tomadas por uma nação impactam todo o globo, principalmente em questões fundamentais como preservação do meio ambiente e combate às mudanças climáticas, fatores estes diretamente relacionados com a geração de eletricidade.
O paradigma que norteou o setor elétrico brasileiro nas últimas décadas foi o de segurança energética aliado à modicidade tarifária.
Estes objetivos são importantes e legítimos: o aumento constante da oferta de energia propiciou a infraestrutura necessária para o crescimento econômico, e os preços módicos permitiram que as pessoas pudessem aumentar o seu consumo de energia, obtendo assim maior qualidade de vida, sem onerar demasiadamente o orçamento doméstico.
Entretanto, ao considerar a questão ambiental, o modelo energético atual, baseado no aumento do consumo de combustíveis fósseis, necessita ser revisto.
A modicidade tarifária não é verdadeiramente atendida, visto que um elevado custo ambiental, o qual não está sendo contabilizado agora, será cobrado da humanidade no futuro com pesados juros.
Soluções inovadoras devem ser adotadas.
É nesse contexto que a energia solar fotovoltaica, utilizada na forma de geração distribuída, apresenta-se como uma resposta que permitirá conciliar o crescimento energético com crescimento econômico, preservação do meio ambiente e combate às mudanças climáticas.
Entretanto, a visão conservadora tende a repetir as soluções do passado ao invés de utilizar as novas opções que estão à disposição.
Os Planos Nacionais de Energia insistem na necessidade de grandes hidrelétricas, tais como Belo Monte e Tapajós, juntamente com o aumento da participação das termelétricas, enquanto a energia solar fotovoltaica crescerá de forma muito modesta, mesmo com a previsão de redução expressiva de seu custo.
Uma humanidade mais madura, que se preocupa tanto com o presente quanto com o futuro, deve considerar os custos diretos da geração de eletricidade e também as externalidades e suas implicações futuras.
Qual é o benefício para o governo e para a sociedade se a energia for produzida em harmonia com o meio ambiente?
Estes custos evitados devem ser contabilizados e os valores economizados devem ser reaplicados visando estimular ainda mais o uso da energia solar fotovoltaica, criando assim um círculo virtuoso, transformando em realidade o seu potencial e sua vocação para ser a principal fonte energética, tanto do Brasil quanto do mundo.
Este deve ser o foco da política energética, investindo um pouco mais agora para evitar pagar muito no futuro.
Conforme dito por Bahá’u’lláh (1817 - 1892) “fomos criados para levar avante uma civilização em constante evolução”;
a evolução energética é o passo que se apresenta como iminente ao Brasil e à sociedade mundial; o conservadorismo energético fóssil deve, então, dar lugar à inovação solar.
(*) Rafael Amaral Shayani é professor do Departamento de Engenharia Elétrica, da Universidade de Brasília. Graduado em Engenharia Elétrica.