terça-feira, 20 de novembro de 2012

Agencia chinesa apoia estudo que prevê maior eficiência energética e EUA na liderança em petróleo

Autossuficiência dos EUA viria até 2017 do aumento da produção de fontes não convencionais e tradicionais, da redução do consumo e de novas tecnologias


O destaque conferido ao estudo da Agência Internacional de Energia que prevê a volta dos EUA ao status de maior produtor de petróleo do mundo até 2017, além de realçar a “mais brilhante perspectiva” para a produção do Brasil, omite um dado crucial do relatório: os resultados dos programas de aumento da eficiência energética, fator decisivo da autossuficiência dos EUA vislumbrada pela entidade.

O cenário da IEA, sigla em inglês dessa agência baseada em Paris e formada pelos principais países importadores de petróleo, tem mais de uma implicação, todas com potencial explosivo. 

A desimportância gradativa da energia importado para os EUA, o maior consumidor de petróleo do mundo, insere desdobramentos sobre os preços, portanto, sobre a escala dos investimentos futuros, e sobre a geopolítica.

A presença militar dos EUA em áreas de risco do Oriente Médio pode perder relevância estratégica, aumentando, por sua vez, a da China, o segundo maior importador mundial de petróleo, além de número 1 no ranking global de emissores de CO2, seguida dos EUA e da Índia.

Sintomaticamente, o primeiro estudo do Energy Research Institute, ligado ao National Development Reform Comission da China, divulgado esta semana, não só corrobora o cenário apontado pelo World Energy Outlook da IEA sobre os EUA, como também reforça a recomendação do consumo mais eficiente dos combustíveis fósseis (petróleo e carvão, o principal insumo utilizado na geração de eletricidade na China).

“China deve mudar o atual sistema de gestão de energia ‘orientado pela oferta’ para ‘orientado pela demanda’”, diz o documento, cujo propósito é o de subsidiar o governo chinês com informações sobre produção e consumo de insumos energéticos hoje dependentes da IEA e também da EIA (Energy Information Administration), agência dos EUA.

É o que a IEA afirma que está em curso nos EUA, levando o país a se libertar das importações de petróleo nesta década e a se tornar exportador líquido, sobretudo de gás, até 2030. 

E nós? No mapa da IEA estamos bem com a produção de petróleo. E quanto à eficiência energética? Não diz. Mas de outra fonte sabemos que estamos mal.

Produção e eficiência

A autossuficiência de energia dos EUA viria do aumento da produção de petróleo e gás de fontes tradicionais e não convencionais (como a exploração avançada de reservas de xisto), numa proporção de 55%. 

Os restantes 45% viriam de programas de maior eficiência do consumo dos insumos fósseis, de “energias limpas” (etanol, nuclear, solar e eólica) e novas tecnologias, como de iluminação e de transportes, inclusive outro padrão de baterias para carro com motor elétrico.

O espaço de oportunidades é gigantesco, embora muita coisa esteja em processo, sem ter chegado ao mercado. Mas é questão de tempo. 

O Departamento de Energia recebeu boa parte dos US$ 750 bilhões que o governo Barack Obama aprovou no Congresso em 2009 contra a recessão – e vem funcionando desde então como um fundo de private equity de projetos de tecnologia de ponta de universidades e de empresas.

“Revolução já começou”

O leque de diretrizes e predições estampadas no estudo do Energy Research Institute da China aponta o cenário à vista. 

“O mapa para o desenvolvimento de veículos a motor da China deve ser revisado”, diz o relatório. 

“A economia de baixo carbono vai dominar o futuro da tecnologia de energia. 

A energia renovável, embora representando pequena parcela do mix de energia, está crescendo gradualmente.”

O futuro, para a agência chinesa de energia, está traçado. “Uma nova rodada de revolução industrial em torno do desenvolvimento e da utilização de novas energias e energias renováveis já começou.”

Por ela já há disputas comerciais. Os EUA impuseram tarifas sobre a importação de placas chinesas de energia solar, sob a alegação de práticas desleais de comércio, e a União Europeia avisou que cogita acompanhar tais sanções. 

O Congresso dos EUA quer impedir o acesso da China às novas tecnologias. Entretido pela crise, o noticiário pouco fala disso, sem atentar para a “nova economia” em formação.

Indolência brasileira

Preocupante para o Brasil não é o que o estudo da agência chinesa prevê: a intensificação do nacionalismo pelos recursos energéticos. 

“Isto não só irá impactar a oferta global de energia no futuro, mas também dará origem a conflitos geopolíticos e a disputas regionais por fontes de energia”, diz o relatório chinês.

No Brasil, o Estado é titular absoluto dos recursos naturais. Mas há uma injustificável indolência com a eficiência energética, base dos desenvolvimentos tecnológicos que tendem aos poucos a reduzir o consumo de petróleo nos transportes e na indústria.

Das 12 maiores economias, somos a 10ª em eficiência energética, salvos do último lugar graças ao etanol e às hidrelétricas. Voltaremos ao assunto.

Eletrobras energizada

Embora seja gratificante o reconhecimento da IEA de que o “boom do petróleo no Brasil ganha ritmo”, é inquietante a falta de um plano abrangente para economizar energia, de lâmpadas e eletrodomésticos mais eficientes à utilização de fontes renováveis. 

O governo forçou o corte da conta de luz, mas pode em paralelo recriar a Eletrobras.

No fim de 2006, o presidente Lula soube por Luciano Coutinho, hoje presidente do BNDES, de ideia estudada no Instituto Talento Brasil de fazer a Eletrobras um grupo de energia, fora petróleo, à imagem da Petrobras. 

As subsidiárias seriam consolidadas na holding, para fortalecer a estrutura de capital, com governança profissional e o seu relançamento no mercado de capitais.

Essa “nova Eletrobras” combinaria o fomento à pesquisa com o apoio a startups do setor energético, além da gestão das velhas e novas usinas hidrelétricas. A economia precisa de alguma ousadia que chacoalhe os investidores. A reforma tarifária traz a oportunidade.