sexta-feira, 15 de abril de 2011

Medição e Verificação: mais precisão nos resultados com eficiência energética


M&V é um dos fatores que poderão contribuir para alcançar a economia de energia de 10%, até 2030, pretendida pelo Plano Nacional de Eficiência Energética que o governo deve anunciar este ano

Dayanne Jadjiski, para o Procel Info

Nas indústrias, a M&V é um mecanismo
decisivo para contabilizar resultados dos
projetos de economia de energia

Quantificar os resultados dos investimentos em ações de eficiência energética. Este é o objetivo da Medição e Verificação (M&V), um dos instrumentos que integram o Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEf). A M&V é uma das soluções que poderão contribuir para alcançar a economia de energia de 10% até 2030, pretendida pelo plano que o governo pretende divulgar ainda este ano.

De acordo com o especialista em energia do Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE), Fernando Milanez, a M&V tem grande importância nos projetos de eficiência energética. "Resultados numéricos para serem confiáveis exigem medições das grandezas envolvidas. Se não houver M&V, os resultados serão sempre estimados e sem precisão definida", afirma. Para o diretor técnico da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Escos), Norberto Duarte, a M&V é o melhor instrumento até o momento para quantificar os resultados efetivos de economia de energia, através de metodologias de medições antes e após ações corretivas. "O que não se mede, não se gerencia", diz.

Os resultados dos projetos de eficiência energética são quantificados através das medições antes e após as ações, utilizando o IPMVP (Protocolo Internacional de Medição e Verificação de Performance), publicado pela Efficiency Valuation Organization (EVO). O guia descreve práticas usuais na medição, cálculo e reportação de economias de energia obtidas por projetos de uso final. O PNEf destaca que o protocolo não apresenta, propriamente, os procedimentos necessários ao processo de M&V, mas sim um conjunto de recomendações. Quanto mais cedo se começa o monitoramento das medidas de eficiência energética através da M&V, melhores são os resultados conseguidos.

Segundo o PNEf, um plano de M&V deve conter em seu escopo, entre outros, uma descrição das ações de eficiência energética e o resultado esperado; a identificação dos limites da determinação das economias; documentação das condições da operação da instalação e os dados de energia do consumo-base; auditoria para reunir as informações do consumo-base e dados de operação do sistema, que sejam relevantes para a medição e verificação; perfis de consumo de energia e demanda; tipo de ocupação, densidade e períodos; condições parciais ou de toda a área da instalação em cada período de operação e estação do ano.

A M&V é fundamental para a contabilização dos resultados dos projetos de economia de energia. Sem um bom processo de M&V, o resultado de qualquer ação de eficiência energética é absolutamente invalidado, diz Rodrigo Garcia, da CNI

Para Duarte, da Abesco, a não quantificação do retorno financeiro pode ser um obstáculo à implantação de projetos de eficiência energética. "O empresário não se sente confortável quando as reduções de despesas e consumo não são apresentadas claramente. A M&V vem para minimizar estes riscos de projetos e instalações", declara. Para Milanez, do INEE, a quantificação do retorno financeiro é fundamental para os projetos de eficiência energética. "Os projetos de eficiência energética têm de apresentar retorno financeiro ao investimento. É necessário demonstrar que o investimento a ser feito para produzir um 'kWh economizado' seja inferior àquele necessário para gerar um 'kWh novo'”.

As Escos, continua Duarte, também têm sua contribuição na realização da M&V dos resultados dos projetos de eficiência energética. "Elas devem difundir esta metodologia ao mercado, pois têm grande experiência na utilização dos procedimentos de M&V na implantação de seus projetos", diz. A contratação de Escos para a realização dos trabalhos de M&V é feita, principalmente, em pequenas e médias empresas ou aquelas que não sejam industriais, como shoppings e supermercados, segundo o analista e especialista na área de energia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rodrigo Garcia. "Geralmente as grandes empresas não contratam Escos, porque elas já têm profissionais capacitados", explica. 

A CNI realizou um estudo em 2009 para conhecer o que já foi feito no Brasil em termos de eficiência energética na indústria e as oportunidades de redução de custos. Foram analisados 217 projetos de eficiência energética industrial em 13 setores, realizados nos últimos 10 anos. O montante total investido neste conjunto de projetos foi de R$ 161 milhões, gerando uma economia de 626 GWh, o que apresenta um custo da energia conservada de R$ 79/MWh.

Os maiores e melhores potenciais técnicos de economia de energia observados, declara Garcia, estão nos processos térmicos, que envolvem fornos, caldeiras e aquecedores. Nos projetos para economia de eletricidade estão ações de troca de motores, melhorias em sistemas de iluminação e de ar comprimido. "Apesar de o potencial ser maior na parte de combustíveis, o retorno financeiro na parte elétrica é muito maior porque a nossa energia elétrica é muito cara", destaca. Para Garcia, a M&V é fundamental para a contabilização dos resultados dos projetos de economia de energia. "Sem um bom processo de M&V, o resultado de qualquer ação de eficiência energética é absolutamente invalidado", finaliza o executivo.