Telesíntese - Lúcia Berbert
As redes elétricas inteligentes começam a ser uma realidade no Brasil e, até 2030, deve atender até 74,4 milhões de usuários no país.
Mas o sucesso desse empreendimento, que traz benefícios para toda a cadeia produtiva e ao consumidor, depende da modelagem a ser adotada, do treinamento de pessoal e de financiamento, que darão capacidade dos pesados investimentos necessários pelas empresas do setor.
A receita é do presidente da Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica), Nelson Fonseca Leite, feita durante a audiência pública sobre smart grid, promovida pelas comissões de Ciência e Tecnologia e de Minas e Energia da Câmara, na quarta-feira (13).
Segundo Leite, as ações nessa área estão se multiplicando, com a implantação de projetos pilotos em várias cidades, e um novo modelo de negócios vai surgir para distribuição de energia elétrica, em função da bidirecionalidade do fluxo e isso terá que ser institucionalizado.
Ele propôs a criação de um observatório nacional para acompanhamento desses projetos, de modo a transferir experiências bem-sucedidas para outras iniciativas.
O presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), Humberto Barbato, salientou que os benefícios da rede inteligente, já em testes por 30 concessionárias, são significativos, especialmente na interrupção da distribuição e na economia para o usuário, inclusive de baixa renda, que pode reduzir seu consumo nas horas de pico.
Mas adverte que é preciso o envolvimento de toda a cadeia de fabricante, para prover os equipamentos e sistemas necessários ao novo sistema e, consequentemente, contribuir para reduzir o déficit da balança comercial do setor elétrico e eletrônico.
Para Barbato, os investimentos necessários para a implantação maciça de smart grid no Brasil variam de R$ 46 bilhões a R$ 91 bilhões, a depender da velocidade que o país quer adotar.
Ele acredita que todo a economia ganhará com essa verdadeira revolução do setor de energia, que será comparável à evolução das telecomunicações, após a privatização.
O autor e integrante do Projeto IEEE P2030, Cláudio Lima, que acompanha o avanço das redes inteligentes em diversos países do mundo, disse que o desenvolvimento do smart grid no Brasil é satisfatório.
Ele recomendou que as políticas públicas a serem adotadas levem em conta três pontos: a interoperabilidade, por meio do uso de sistemas abertos; a segurança cibernética, para evitar ataques às subestações de energia; e o envolvimento do consumidor no processo, que passará a ter um papel ativo.
Lima ressaltou que 90% das inovações que o sistema requer serão destinadas para o espaço entre as subestações e o consumidor, onde houve pouco investimentos nos últimos anos.
Ele alertou também para o cuidado na escolha do medidor eletrônico. E recomendou que as políticas públicas que serão estabelecidas devem contemplar toda a cadeia produtiva.
O especialista em projetos de desenvolvimento industrial, Carlos Venicius Frees, afirmou que 862 instituições já trabalham no desenvolvimento do smart grid no Brasil, estudando novos modelos de negócios para o setor e no desenvolvimento de TIC nacional para os novos sistemas.
Ele frisou que as redes inteligentes dependem da infraestrutura de telecomunicações, considerando uma vitória a inclusão do smart grid no Regime Especial de Tributação do PNBL. Segundo Frees, as redes inteligentes são a base para as smarts citties e para a internet das coisas.
O presidente do Conselho de Consumidores da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), José Luiz Nobre, disse que as redes inteligentes devem ser colocadas a serviço do consumidor.
Mas também que será importante para reduzir perdas e diminuir o déficit de produção de energia, hoje estimado em 20%, considerando o consumo mundial. Ele defendeu ainda a regulamentação dos serviços acessórios, que poderá ser prestados pelas distribuidoras, como o de monitoramento de casas inteligentes e o monitoramento de saúde.
O deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), que propôs o debate, disse que as apresentações serão essenciais na definição de ações legislativas necessárias para destravar os empecilhos e também as políticas públicas que possibilitem a migração para essas novas tecnologias.