sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Eficiência energética esbarra no financiamento

Estudo da ONG Sitawi Finanças do Bem percebeu que empresas têm dificuldade em acessar linhas de crédito
Jefferson Klein

Eficiência deve representar redução de 3,4% da demanda de 2017JOÃO MATTOS/JC
Eficiência deve representar redução de 3,4% da demanda de 2017
Em uma época em que o preço da energia fica cada vez mais caro e que as termelétricas aumentam a geração, a eficiência energética é apontada como uma resposta para atenuar esse cenário que implica reflexos econômicos e ambientais. 

No entanto, ainda faltam conscientização e condições de financiamento para que a prática desenvolva-se mais rapidamente no Brasil.

A constatação é feita pelo estudo “Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: soluções financeiras e não financeiras para os agentes de mercado”. 

O trabalho foi realizado pela organização sem fins lucrativos Sitawi Finanças do Bem, a pedido do Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável (Cebds). 

O levantamento percebeu que as empresas, além de terem uma dificuldade de acesso às linhas de crédito, geralmente preferem investir em outros projetos como incremento de capacidade de produção. 

As instituições financeiras, por sua vez, tendem a dar prioridade a empreendimentos que envolvem valores e taxas de retorno mais elevados.

O CEO da Sitawi Finanças do Bem, Leonardo Letelier, salienta que entre as atitudes que as companhias podem adotar para ter um uso mais racional de energia estão a troca de equipamentos antigos, a repotencialização das máquinas e a melhora de processos. 

O dirigente ressalta que as empresas são sensíveis à questão do custo da energia, mas defende que seria importante a realização de uma campanha de conscientização no País sobre a eficientização.

Letelier acrescenta que, no caso dos clientes residenciais, o recém implantado sistema de bandeiras tarifárias (que onera a conta de luz quando as termelétricas estão sendo acionadas intensamente) serve como um alerta. 

Contudo, o dirigente acredita que a medida não despertará tanto o interesse daqueles que não perceberem muito impacto em suas rendas. Letelier reitera a importância das vantagens ambientais da eficientização. 

Conforme dados da Sitawi, somente no primeiro semestre de 2014, houve um crescimento da participação da geração térmica não renovável de 43,5%, em relação ao igual período de 2013. 

Ou seja, a matriz elétrica brasileira passou a emitir 58% mais de emissões de carbono, chegando a 0,1440 tCO2/MWh. 

A organização cita ainda que a American Council for an Energy-Efficiency Economy estima que o País utilize menos de 30% do seu potencial de eficiência energética. Porém, a tendência é desse cenário melhorar.

De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a eficiência energética representou a redução de 1% da demanda esperada de energia em 2013. Para 2017, esse percentual deverá ser de 3,4% e, para 2022, deverá chegar em 5,8%. 

Um dos autores do estudo feito pela Sitawi, Lucas Salgado, comenta que em 2022 a perspectiva é de alcançar uma energia conservada de cerca de 48 mil GWH. 

O pesquisador informa que isso significará uma economia total de R$ 5,2 bilhões, se for considerado o custo marginal de expansão de R$ 108,00, conforme dados da EPE. 

“Ao somarmos a economia com combustíveis fósseis (R$ 10,9 bilhões) temos um total anual de R$ 16,1 bilhões”, aponta Salgado.

Entre as soluções indicadas pelo trabalho encomendado pelo Cebds para fortalecer a implantação de projetos de eficiência está a realização de empréstimos fora do balanço (off balance sheet). 

O maior benefício da solução é transformar gastos antes considerados como Capex, que impactam a capacidade de endividamento das empresas, em gastos operacionais correntes - Opex. 

Nesse sentindo, evita-se a concorrência de capital entre os empreendimentos de eficiência energética e o restante do portfólio de investimento das companhias. 

Outra possibilidade são contratos de performance, em que o pagamento do desenvolvedor do projeto está atrelado aos ganhos de eficiência.

Abesco e Aneel reúnem-se para montar agenda conjunta de curto prazo para o setor


A Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco) e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) reuniram-se recentemente para discutir ações e planos de curto prazo em eficiência energética com o objetivo de desvincular o tema do aspecto de racionamento e combater o desperdício. 

“Nos últimos seis anos, cerca de 250 mil GWh foram gastos desnecessariamente no Brasil e o custo disso chega a R$ 62 bilhões”, alerta o diretor da Abesco Marcelo Sigoli.

Durante a reunião, o diretor da Aneel André Pepitone destacou a importância da união de esforços entre as entidades para que as questões que envolvam a eficiência energética ganhem força, inclusive em temas legislativos. 

Para tanto, o diretor da agência Reive Barros defendeu que é “necessário definir o que será feito, como será feito e como a Aneel pode ajudar”.

Nesse sentido, a Abesco ficou encarregada de montar um documento oficial com um levantamento de todas as ações nos últimos anos em eficiência energética que foram ou não realizadas e o porquê, e montar uma agenda de atividades com aplicações de curto prazo. 

O material será entregue e apresentado à Aneel no início de fevereiro para que as entidades possam definir as prioridades. 

“Existe um enorme potencial de redução do desperdício de energia no País e é este o compromisso que Abesco e Aneel buscam trabalhar”, concluiu Sigoli.

Leilão de Ajuste fecha com média de R$ 386,67/MWh


O 18º Leilão de Ajuste, promovido nesta quinta-feira pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), foi concluído com preço médio da energia negociada em R$ 386,67 por megawatt-hora (MWh) e 2.105 MW médios contratados.

O certame foi composto por ofertas de fornecimento de três e seis meses, durou quase três horas e terminou com preços negociados próximos ao teto de R$ 388,48/MWh estabelecido pela agência reguladora. Os preços oscilaram entre R$ 318,08/MWh e R$ 388,48/MWh. 

Os valores mais elevados, como já era esperado, ficaram por conta dos contratos de seis meses. O mais alto, de R$ 388,48/MWh, limitado pelo teto autorizado pela Aneel, foi registrado na região Nordeste. 

Na região Sudeste/Centro-Oeste, o preço estabelecido ficou em R$ 388,18/Mwh. 

Para a região Sul, foi de R$ 385,87/MWh. 

Na região Norte, cujo preço limite era mais baixo em função da expectativa de menor demanda, o valor médio dos contratos de seis meses ficou em R$ 318,08/MWh. 

No caso dos contratos com três meses de duração, os valores foram um pouco menores. 

O preço mais elevado ficou na região Sul, com valor médio de R$ 387,66/MWh. No Sudeste/Centro-Oeste, ficou em R$ 386,70/MWh. Na região Norte, o valor ficou estabelecido em R$ 357,48/MWh.

Foram negociados 2.105 MW médios, ou 8,554 milhões de MWh no período de fornecimento  — de janeiro a março ou de janeiro a junho. 

Os contratos a serem formalizados a partir do resultado do leilão devem movimentar R$ 3,311 bilhões, conforme dados da página eletrônica da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), responsável pela operacionalização do certame. 

O Leilão de Ajuste desta quinta-feira tinha como objetivo complementar a carga de energia necessária para que as distribuidoras pudessem atender ao mercado consumidor neste primeiro semestre.