sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Plano de redução de tarifas não se sustenta

Um dos maiores especialistas brasileiros do setor de energia faz sérias críticas ao plano da presidente Dilma Rousseff para baixar as tarifas de eletricidade. Para Ildo Sauer, diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP e ex-diretor da Petrobras, que concedeu entrevista para a CBN, a medida não se sustenta porque o País não desmontou “a máquina de fazer aumentos” no setor energético.


“Em uma década seguida conseguimos a proeza de fazer com que 60 milhões de brasileiros paguem uma das maiores tarifas do mundo”, afirma Sauer. 

Ele cita os recentes aumentos autorizados para consumidores do Rio de Janeiro e Espírito Santo, de 13% e 11% respectivamente. “Só estes exemplos mostram que não haverá queda de 18% nas tarifas”.

Para ele, um dos grandes males do País é a tarifa de energia. “A situação é bem mais complexa do que esta vontade do governo federal de, depois de dez anos de explosão tarifária, procurar uma solução parcial para o problema”.

Sauer elogia a decisão de empresas como a Copel, Cesp e Cemig de não aderirem ao plano. 

“É uma decisão lúcida, pois este é um processo improvisado, mal discutido, gestado em gabinete e proclamado como solução nacional”, afirmou, lembrando que, de qualquer maneira, a ideia da redução nas tarifas será bancada por recursos públicos.

O especialista explica que faltou planejamento ao País para lidar com as dificuldades no setor energético e hoje é preciso gastar R$ 1 bilhão por mês para manter a operação de termoelétricas. “Continuamos com um problema seriíssimo, convivendo com apagões e apaguinhos. A segurança energética está ameaçada”.

Sauer afirma que é lamentável que um governo presidido por uma pessoa que se credenciou ao cargo por sua atuação na área “conduza o Brasil para um novo atoleiro no setor de energia elétrica”. “Se chover muito pouco em 2013, nem o racionamento pode afastado”.

A reação de quem entende do assunto não se resumiu às considerações de Sauer. Um grupo de especialistas em energia, liderados pelo ex-presidente da Eletrobras no governo Lula, Luiz Pinguelli Rosa, enviou carta para Dilma pedindo que recue em relação às mudanças previstas. 

O texto diz que há “grande apreensão sobre consequências que, com grande probabilidade, pode decorrer das alterações”.

Entre as consequências estão riscos regulatórios (contratos que poderiam ser contestados) e sistêmicos (como a ocorrência de apagões). O grupo pede que Dilma revogue as medidas já anunciadas.

O Paraná vai perder R$ 450 milhões em receitas tributárias se forem aplicadas as medidas impostas pelo governo federal. Além disso, o prejuízo para a Copel deve chegar a R$ 200 milhões. 

“Isso mostra que o governo federal agiu de maneira precipitada, impondo grandes sacrifícios aos Estados e às empresas de energia”, afirma o governador Beto Richa.

De acordo como ele, os alertas feitos pelos especialistas são a prova cabal de que a iniciativa do governo federal não tem sustentação e pode provocar graves problemas ao desenvolvimento do Brasil.