quinta-feira, 14 de março de 2013

Instalações provisórias: erros mais frequentes

Este texto foi publicado em 22/11/2012 no portal Voltimum
Cada vez com maior frequência em função da grande movimentação social das cidades, as instalações elétricas provisórias como feiras e shows são grandes responsáveis por acidentes elétricos. 


Conheça os principais erros e como resolvê-los para manter sua instalação segura.

As instalações elétricas provisórias são encontradas frequentemente em feiras, exposições, palcos de show, parques de diversão, canteiros de obras e nessa época do ano até em decorações natalinas. 

São instalações que atendem uma demanda específica de energia elétrica por um intervalo de tempo e depois disso são desabilitadas ou até substituídas por uma instalação permanente. 

Apesar de serem submetidas às mesmas normas técnicas de uma instalação elétrica convencional (a NBR 5410), as instalações provisórias no Brasil em muitos casos desrespeitam os aspectos de segurança de seus usuários e não raro causam graves acidentes. 

Um dos mais recentes e populares ocorridos no Brasil foi o do jornalista Lasier Martins, que numa cobertura de uma Feira da Uva para o telejornal do Rio Grande do Sul, tocou em uma grade eletrificada onde estavam expostos cachos de uva. 

O choque intenso provocou sua queda e o vídeo recentemente virou hit da web. Felizmente, o acidente não foi fatal, mas serviu de alerta para esta questão.

Uso de cabos inadequados
Entre os erros mais frequentes observados neste tipo de instalação está o uso de cabos inadequados. A NBR 5410 é clara quanto ao tipo de cabo que deve ser usado e como este deve ser instalado nas diversas situações. Cabos que possuem apenas isolação devem ser instalados dentro de eletrodutos ou eletrocalhas com tampa. 

Cabos que além de isolação possuem cobertura podem ser instalados de modo mais livre, pois suportam mais os impactos mecânicos, conservando-se íntegros com pequenas pressões acidentais e pequenas oscilações de temperatura e umidade.

A NBR 5410 traça os parâmetros ideais dependendo da situação de uso do cabo elétrico. Mas o que se vê com enorme frequência é o uso, por exemplo, do cabo paralelo, feito para ser usado exclusivamente na ligação de equipamentos elétricos como o cabo que alimenta um abajur ou um liquidificador. 

Ele vem com o equipamento elétrico e não foi fabricado para ser aplicado numa instalação elétrica. A fixação deste cabo em rodapés e outros suportes são proibidos pela norma, pois não suportam tração e pressão. São dois pequenos cabos grudados um ao outro, muito flexíveis, porém muito frágeis. 

Em caso de trincamento, ele expõe os usuários da instalação ao risco de choques, como o do Lasier, podendo também gerar curto-circuito. Os indicados são condutores isolados, como os de 450/750 volts da Nexans, e que só podem ser usados dentro de dutos fechados como eletrodutos, canaletas com tampas ou perfilados com tampas.

Outro modelo inadequado é o cabo PP, produzido dentro do mesmo conceito do cabo paralelo, mas dotado de uma cobertura em formato redondo. A sua indicação de uso está restrita a equipamentos elétricos como refrigeradores, aspirador de pó e microondas. Ele liga o aparelho à tomada, exclusivamente, e não foi feito para uso em obra, em eletrodutos.

Quando há necessidade de se usar cabos soltos no chão ou suspensos na parede são indicados os modelos multipolares flexíveis de 0,6/1kV. Eles apresentam isolação e cobertura, que suportam pressões mecânicas e maior flexibilidade. 

É importante destacar que os multipolares são visualmente idênticos aos PP. Mas os materiais e o projeto de construção desses cabos são muito distintos. É necessário verificar a especificação com atenção, para que se possa diferenciar um do outro.

Um dos lugares que frequentemente usam cabos inadequados são as feiras de negócios, onde se concentram vários estandes com projetos arquitetônicos dos mais variados. São ligados equipamentos diversos, inclusive ar condicionado, em instalações feitas com cabos paralelos ou PP. 

Eles não apresentam resistência, mediante rompimento, expõem o cobre que pode provocar choques ou curto-circuito. Em palcos de shows e apresentações, as consequências podem ser maiores, pois são montados sobre estruturas de aço que facilmente colocam as pessoas em situação de maior risco.

Falta de condutor de proteção (fio terra) e DR
Não tem sido muito frequente o uso do fio terra e de dispositivos DR (diferencial residual) nas instalações provisórias. Por isso, quando acidentes como em palcos ocorrem, eles poderiam ser minimizados com o desligamento automático da rede através do DR. 

Não é nada complexo instalar um dispositivo DR numa instalação provisória. Este é um mito que precisa ser derrubado e ainda quebrar o paradigma de que porque a instalação é provisória pode se abrir mãos das normas e da segurança. Toda transmissão de energia deriva de um quadro de luz e é ali que deve ser instalado o DR. Há de se observar nestes casos o fato de que problemas específicos motivam a interrupção do fornecimento global de energia. 

O DR é um verdadeiro dedo-duro de instalações erradas e é sensível ao menor sinal de que alguém esteja sendo eletrocutado. Ele desliga o circuito imediatamente, o que significa, por exemplo, deixar um estande às escuras ou parar um equipamento na obra. Mas essas ocorrências, é preciso deixar claro, são frequentes apenas em instalações que foram malfeitas. Ou seja, há um círculo vicioso que precisa ser interrompido, antes de mais nada, executando uma instalação provisória correta. 

Provavelmente quase 100% das mortes que ocorreram em instalações provisórias não ocorreriam se tivesse sido instalado um dispositivo DR. O fio terra, por sua vez, se complementa nesse cenário. 

Qualquer parque de exposições, como o Anhembi, em São Paulo, possui sistema de aterramento em seu quadro principal e basta que o eletricista leve este fio terra até o estande que está sendo montado. É necessária apenas uma mudança de postura e preocupação por parte desses profissionais sobre as consequências de uma instalação malfeita.

Texto produzido com a colaboração de Hilton Moreno, engenheiro eletricista pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, professor do Curso MBA de Gestão de Energia, titular da cadeira de Normalização Técnica, da Fundação Santo André (SP). O especialista já integrou o Comitê Brasileiro de Eletricidade (CB-3) da ABNT e participou de atividades de normalização técnica na Associação Mercosul de Normalização e no COPANT (Comitê Panamericano de Normalização Técnica).

Fonte: Portal Voltimun