Por duas vezes seguidas, em 2011 e em 2012, a Weg, de Jaraguá do Sul, foi considerada uma das três empresas mais inovadoras do Brasil pelo principal reconhecimento nacional da área, o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
No ano passado, o processo de gestão em inovação da empresa ficou atrás somente do da Embraer e da Natura. "Inovação não é para gênios, exige determinação, trabalho sistemático e organizado e, acima de tudo, coragem para assumir riscos", explica o gerente do departamento de pesquisa e inovação tecnológica da Weg Motores, Sebastião Lauro Nau.
A Weg tem filiais no exterior, mas inovar é um papel da empresa no Brasil, onde fica a matriz. O processo ocorre de forma descentralizada entre as cinco unidades de negócios: motores, energia, automação, transmissão/distribuição e tintas.
O índice que mede o grau de inovação de cada unidade está associado ao faturamento. Em primeiro lugar está a Weg Motores, o negócio mais consolidado do grupo, onde cerca de 90% do faturamento advêm de produtos lançados nos últimos cinco anos.
— Isto significa mudar tudo em poucos anos, com produtos novos ou que receberam aperfeiçoamentos —, explica Sebastião. Em todo o grupo, os produtos lançados nos últimos cinco anos correspondem a 63% do faturamento.
O investimento em pesquisa e desenvolvimento está acima da média do País. O percentual varia historicamente de 2,5% a 3% do faturamento da Weg. Em 2011, o grupo investiu 2,6%, ou R$ 135 milhões, e o Brasil aplicou nessa área 1% do conjunto de riquezas, medido pelo produto interno bruto (PIB).
— Se a companhia acredita que inovar é fundamental para alcançar o sucesso no negócio, ela não vai desistir de desenvolver a inovação, mesmo em momentos difíceis —, diz o gerente.
Os segredos de um celeiro de inovações
Para a Weg, o processo de inovação faz parte da rotina. As novas ideias desenvolvidas na multinacional de Jaraguá do Sul são, na maioria, incrementais, ou seja, para o aperfeiçoamento dos produtos.
O planejamento tecnológico serve como ponto de partida ao definir o foco de inovações, que pode ter como objetivo baixar ruído e vibração dos produtos para níveis inferiores aos da exigência legal e aos da concorrência; reduzir ou reciclar matéria-prima; aumentar a eficiência energética dos produtos; e diminuir a emissão de CO2.
No Brasil, cerca de 75% da matriz energética é hidráulica, mas a emissão de CO2 ganha importância em outros países, como Estados Unidos, China e Índia, onde predominam as termelétricas a carvão e óleo, mais poluentes, segundo explica o gerente do departamento de pesquisa e inovação tecnológica da Weg Motores, Sebastião Lauro Nau.
Se o produto apresentar baixo consumo de energia, menor será a necessidade de geração do recurso das termelétricas. Internacionalmente, é um importante fator de competitividade. Como o market share no Brasil já é de cerca de 75%, a empresa busca crescer no exterior. O direcionamento da inovação, portanto, está ligado à estratégia de negócio.
Porta de entrada
Mercado, tecnologias, meio ambiente e comportamento do consumidor mudam de cenário rapidamente. Para tomar conhecimento do presente e antecipar o futuro, a Weg mantém canais de entrada de informação. Um deles é a reunião anual do comitê científico e tecnológico, que chega à 15ª edição.
Os convidados variam de um ano para outro e, entre eles, há sempre professores estrangeiros. Em 2013, serão dois suíços, um do Reino Unido e um do Canadá, além de docentes brasileiros e profissionais da Weg.
Durante dois dias, o grupo analisa as pesquisas mais avançadas no mundo e o que se vislumbra sobre o futuro de máquinas elétricas e acionamentos. Clientes também são uma valiosa fonte de informação. As necessidades, em âmbito global, são expressas pelos diretores das filiais externas no encontro na matriz.
A Weg também promove dois prêmios de inovação tecnológica: um interno e outro externo, que está na terceira edição. Em média, recebe 50 projetos de alunos de graduação e de pós-graduação de todo o País. Entre eles está a Paraíba, que com duas universidades federais fortes na área em que a Weg atua, marca presença sempre.
— O objetivo do prêmio é ter o meio acadêmico pensando questões relevantes da área. Contribui para formação de talentos —, diz Sebastião.
Os funcionários também podem contribuir com ideias inovadoras. Além do prêmio interno de inovação tecnológica, a empresa disponibiliza um espaço para sugestões na intranet, estimula a participação no Círculo de Controle de Qualidade (CCQ) e recompensa as inovações ao incluí-las na avaliação individual, influenciando o recebimento de participação diferenciada dos lucros.
Ainda que a maior parte das ideias seja interna, a Weg mantém cooperação com universidades e institutos de pesquisa do Brasil e do exterior. A Federal de Minas Gerais, por exemplo, estuda o desenvolvimento de chapas de aço para motores elétricos. A parceria com a academia envolve desde o uso de nanotecnologia até softwares para controle de motores.
Pesquisa que gera resultado
Ideias internas geram maior parte das inovações
— Nosso maior desafio em inovação é continuar aumentando os níveis de rendimento dos motores, pois não existe motor com 100% de rendimento —, afirma o gerente do departamento de pesquisa e inovação tecnológica da Weg Motores, Sebastião Lauro Nau. Isto explica a satisfação da empresa com a plataforma de motores W22, cuja principal característica é a alta eficiência.
Para desenvolvê-la, a Weg realizou uma ampla pesquisa por mercados sobre as características que deveriam ser incorporadas à nova plataforma. O novo produto também deveria ter flexibilidade para ser produzido nas fábricas da Weg do Brasil e do exterior.
O resultado agradou a todos. A nova plataforma substituiu produtos que estavam no mercado há dez anos e, em menos de dois anos, responde por cerca de 55% de todo o faturamento da Weg Motores.
De acordo com a empresa, isto se deve às melhores características técnicas, aliadas a preços mais competitivos. Foram encaminhados cinco pedidos de patentes e 20 pedidos de desenho industrial para proteger o projeto e o design inovadores.
Da idéia ao produto
O fluxograma interno da Weg foi projetado para que uma ideia se transforme em produto pronto para o mercado em no máximo 18 meses. Mas como saber qual a melhor ideia? Um grupo é responsável pela avaliação, seleção e priorização das novidades. Na Weg Motores, a comissão de portfólio é formada por gerentes de inovação, vendas, engenharia e desenvolvimento.
— Ter priorização é fundamental. Antes, tudo era prioritário, então um projeto ‘roubava’ recursos de outro. O atual cronograma define responsabilidade, prazo e recursos—, afirma o gerente do departamento de pesquisa e inovação tecnológica da Weg Motores, Sebastião Lauro Nau.
O processo de inovação tem como premissa desenvolver produtos inovadores e difundir o conhecimento por toda a empresa, de modo que não somente as pessoas, individualmente, ganhem experiência, mas a Weg como um todo seja experiente.
A proteção do conhecimento é algo novo na cultura da Weg. Somente a partir de 2008, a empresa decidiu investir mais fortemente em patentes. No total, contabiliza 66, sendo 23 concedidas. De acordo com Sebastião, as patentes inibem cópias e são vistas como um indicador de inovação para o acionista e mercado em geral.
E o prêmio vai para...
A partir de uma ideia "muito simples", como definem Thiago Schwinden Leal e o colega Cassiano Antunes Cezario, eles desenvolveram um dreno para retirada automática de condensados (basicamente água) do motor. O feito possibilita aplicações em ambientes severos e evita o risco de esquecimento do operador.
— Com o dreno automático, a Weg pode oferecer produtos com maior confiabilidade —, explica Thiago. Hoje, a abertura do dreno é feita de forma manual. Ele conta que o desenvolvimento do projeto durou um ano, mas valeu a pena.
A dupla do departamento de pesquisa e inovação tecnológica venceu, assim como outros seis projetos, o 1º Prêmio Interno de Inovação Tecnológica, realizado em 2012, que reconheceu as ideias mais inovadoras dos funcionários de duas unidades com um jantar e prêmio em dinheiro.
Na primeira edição, 40 projetos foram inscritos. E a empresa é rigorosa: o regulamento prevê que o trabalho de 50 páginas apresente de forma bem estruturada os conceitos, a relevância, o aspecto inovador e a aplicabilidade do projeto.
Aos 29 anos, o engenheiro Thiago planeja ingressar no mestrado com ênfase em análise computacional. Embora dedicado ao trabalho e aos estudos, não abre mão de sua vida pessoal.
— Procuro ter equilíbrio —, afirma.
Fonte:A NOTÍCIA/Claudine Nunes