São Paulo - No momento em que o país vê aumentar o risco de racionamento de energia, a eficiência energética esteve no centro das discussões do Congresso Brasileiro de Eficiência Energética, nos dias 21 e 22 de julho, em São Paulo.
Segundo Rodrigo Aguiar, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), a importância de se discutir o tema é desvincular eficiência energética de racionamento.
“A eficiência energética está correlacionada com economia e competitividade.
A falta de um programa eficiente, faz o Brasil desperdiçar, anualmente, o equivalente a metade de toda a produção da Usina de Itaipu de um ano. Energia que poderia voltar para o sistema e ser utilizada”, diz.
"O maior programa de eficiência que foi feito é o Selo Procel, que é um caso de sucesso e se tornou referência mundial", diz o presidente da Abesco, Rodrigo Aguiar
Foto: José Pedro Monteiro/Agência O Dia
Qual a importância de se discutir eficiência energética?
O primeiro ponto é que estamos tentando mudar a correlação de racionamento com eficiência energética porque a gente só economiza quando falta. Mas na verdade, eficiência energética está correlacionada com produtividade e competitividade.
O Brasil desperdiça, por ano, 48 terawatts só com energia elétrica. Isso equivale à metade da geração anual da Usina de Itaipu. É muita energia. E esse desperdício aumenta o custo para todo consumidor final, não importa se residencial, comercial ou industrial. Se conseguirmos aumentar a eficiência energética, conseguiremos reduzir custo e aumentar a competitividade.
Onde essa energia se perde?
Vai desde uma geladeira antiga, um ar condicionado com mau uso até hábitos errados, como deixar a geladeira aberta por muito tempo enquanto escolhe o que fazer no jantar...
Também ocorre em shopping center, que tem o sistema de refrigeração original, alguns com 25 anos. São exemplos de equipamentos com tecnologia ultrapassada.
E como isso pode mudar?
Uma das formas de se fazer isso é colocando equipamentos mais modernos e eficientes, o que se traduz em economia de 30% a 50% do consumo de energia, além de aumentar a produtividade.
E toda essa energia que a gente deixaria de desperdiçar, seria disponibilizada ao mercado.
Então, aquele 1 watt que eu deixo de consumir, fica à disposição do sistema e outro consumidor pode utilizar.
Por isso dizemos que a eficiência energética traz uma geração virtual de energia. Ainda garante uma segurança energética maior, porque reduz a carga do nosso sistema como um todo, permitindo que haja mais energia disponível.
O Brasil tem algum programa de eficiência energética?
O maior programa que foi feito é o Selo Procel, que é um caso de sucesso e se tornou referência mundial.
( O Selo Procel orienta o consumidor no ato da compra, indicando produtos com melhores níveis de eficiência energética dentro de cada categoria ).
A partir do momento que foi implantado e ganhou força, todo consumidor entendeu que existem equipamentos de consumos diferentes e que cabe a ele tomar a decisão sobre qual aparelho comprar. Antes, ninguém se preocupava com isso.
Existe algum programa voltado ao setor produtivo?
O Ministério de Minas e Energia lançou, há três anos, o plano nacional de eficiência energética. O que queremos é que ele saia da gaveta e seja implementado de uma forma mais concreta e veemente. Hoje, ainda está muito na teoria e pouco na prática.
O que dificulta a implantação?
No meu entendimento é aquela ideia de racionamento com eficiência energética.
O governo não quer passar a ideia de que vai faltar energia. Mas é uma visão 100% equivocada.
Mas o empresário sabe que eficiência energética não é racionamento?
Mais ou menos. Tanto que lançamos, durante o Congresso de Eficiência Energética, uma cartilha que a Abesco montou junto com o Sebrae-SP para o setor industrial.
Ela traz dicas de como economizar energia nos diversos sistemas consumidores de uma indústria. Afinal, esse é o segmento que mais utiliza intensivamente energia.
Ainda existe uma visão distorcida de que nós devemos cada vez gerar mais energia para atender à demanda em crescimento. Claro que devemos buscar fontes alternativas, mas não é só isso, também temos de colocar a geração através de eficiência energética em pauta.
Você fala da eficiência energética como um produto, não apenas adequação dentro da empresa. É isso mesmo?
É isso mesmo. O primeiro estágio de um projeto de eficiência energética é realizar um diagnóstico energético. É um raio -X do consumo de energia em uma certa unidade consumidora. Normalmente são as Escos (empresas de serviços de conservação de energia), que realizam.
Esse diagnóstico vai apontar quanto esse consumidor gasta com energia; aonde ele gasta e vai mostrar como ele pode economizar.
E aí, terá duas linhas de ação: uma é a troca de equipamento e outra, a mudança de processos.
As Escos são credenciadas para fazer isso.