Sem redução de consumo, a região Sudeste, mais afetada pela estiagem e também a maior consumidora de energia, poderá chegar em outubro com os reservatórios em cerca de 10% da capacidade.
O nível é considerado o mínimo para garantir o abastecimento de energia até o início das chuvas, esperado para novembro.
“Mesmo assim, 10% é bastante baixo. Seria uma sobrevivência até entrar em um novo ciclo chuvoso”, afirma o consultor da Excelência Energética, Josué Ferreira, responsável pelas estimativas.
O regime de chuvas no período seco também terá de ajudar. Qualquer volume menor do que 80% da média provocaria um colapso. Aos 70% da média e sem nenhuma redução no consumo, os reservatórios chegariam ao fim de outubro em 3,41% da capacidade.
Ao contrário de 2001, quando substituir eletrodomésticos e lâmpadas eram as principais medidas para economizar energia, a receita hoje é mudar hábitos cotidianos.
O presidente do Instituto Data Popular, Renato Meirelles, cita como exemplos reduzir a duração do banho quente com chuveiro elétrico e juntar mais roupas para colocar na máquina de lavar.
Outra recomendação de especialistas é desligar aparelhos da tomada quando fora de uso, desde carregadores de celulares até televisão. Isso evitaria os gastos com o ‘stand by’, elevados nos aparelhos que esquentam, como é o caso de receptores de sinal de TV a cabo.
A orientação, contudo, não é unânime. Segundo o diretor do Instituto Ilumina, Roberto D’Araújo, em alguns casos o ‘stand by’ é até útil para manter a corrente elétrica e evitar umidade.
A mais radical das medidas é reduzir o uso de eletrodomésticos e eletrônicos, o que atingiria em cheio o conforto dos brasileiros.
Segundo o diretor técnico da Associação Brasileira de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), Alexandre Moana, alguns aparelhos modernos gastam mais do que os antigos por serem mais potentes (uma TV tela plana de 42 polegadas, por exemplo, consome o dobro de uma TV de tubo de 20 polegadas). “Ou você perde conforto, ou age com inteligência.
Mas até o agir com inteligência tem um limite”, reconhece.
Pesquisas do Data Popular identificaram um hábito nas classes mais populares, sobretudo entre os mais velhos, de encarar eletrodomésticos como patrimônio.
Assim, a geladeira antiga segue sendo usada mesmo após a compra de uma nova, por exemplo. Os mais jovens pensam de maneira diferente. Mas Meirelles lamenta a falta de investimento em campanhas sobre uso racional da eletricidade.
Outros especialistas engrossam o coro. “Seria prudente que já tivesse sido adotada uma redução lenta e gradual do consumo”, diz Ferreira.
“A racionalização é importante.
Se não recuperar (o nível dos reservatórios) no final do regime chuvoso e caso não caia o consumo, talvez seja preciso adotar uma política mais severa.”
Fonte: Exame